Mais uma vez lendo matérias na internet achei esta
bem interessante e resolvi compartilhar com os leitores.
Fonte e Imagens: Revista Época – Ed Globo. Clique
AQUI e veja a reportagem original na internet.
A escolha do prato é uma das partes
mais delicadas de uma refeição. A comida errada pode acabar com nosso estômago
ou com nosso bolso. Talvez até com nosso bom humor. Para resolver essa questão
no dia a dia, sempre usei duas abordagens. A primeira é minha intuição – que já
errou feio várias vezes. A segunda é interrogar o garçom. “Qual prato sai
mais?” e “O que você recomenda?” são as perguntas básicas. O garçom costuma
errar menos que minha intuição, mas ainda assim não é uma solução
certeira.
Para o alívio de comensais aflitos
como eu, o professor de linguística e ciência da computação da Universidade
Stanford Daniel Jurafsky descobriu uma maneira de analisar cardápios pelo modo
como são escritos. Para ele, apenas lendo o cardápio é possível saber se um
restaurante cobra caro demais, se os ingredientes são de boa qualidade e até
mesmo se o local é bom ou apenas tem pose.
Para chegar a essas conclusões, Jurafsky analisou 6.500 menus de restaurantes
de todos os tipos. Ao todo, estudou 650 mil pratos. O resultado está no livro
recém-lançado nos Estados Unidos The language of food: a linguist reads
the menu (A linguagem da comida: um linguista lê o cardápio), sem previsão
de lançamento no Brasil.
A primeira descoberta de Jurafsky diz respeito ao hábito que alguns
restaurantes têm de mencionar a origem dos alimentos. Os locais mais caros
citam, em média, 15 vezes mais a origem dos ingredientes que os restaurantes
baratos. Antes de se impressionar com a trufa italiana ou com o queijo francês,
é bom ter cuidado. “Muitas casas usam isso como estratégia para poder cobrar
mais. Nem sempre a origem do produto é real”, diz Jurafsky.
Palavras em outros idiomas também revelam que sua conta sairá mais cara.
“Antigamente, um restaurante considerado fino deveria trazer em seu cardápio
palavras em francês”, diz. “Hoje, palavras em idiomas mais exóticos, como grego
ou japonês, também assumiram esse papel.” É bom também prestar atenção quando o
menu vier recheado de palavras grandes ou explicações sobre o modo de cozinhar
o alimento. Usar termos como “deliciosamente” ou descrever o modo como um
ingrediente é preparado fará o valor de sua conta subir – e bastante! Segundo a
pesquisa, são R$ 0,36 por cada letra a mais.
O cardápio também traz pistas sobre a
qualidade da comida oferecida. O uso da palavra “fresco” é uma delas. Quando
comemos em qualquer lugar, o mínimo que esperamos de um ingrediente é que ele
não esteja passado ou estragado. O estudo mostrou que restaurantes realmente
bons raramente usam essa palavra em seu menu. Neles, já está implícito que
todos os ingredientes são frescos, não apenas os mencionados no cardápio.
Adjetivos demais também revelam algo
sobre a qualidade da comida. Quanto mais características como “delicioso”,
“saboroso”, “incrível” forem usadas para descrever um prato, maior deve ser a
desconfiança. “Na ausência de elementos que realmente tragam valor ao prato, os
restaurantes usam palavras positivas, que não dizem nada sobre o alimento”, diz
Jurafsky.
Para comprovar se essas teorias fazem sentido, resolvi dar uma olhada em alguns
cardápios de restaurantes reconhecidos. O restaurante Kaá, em São Paulo,
menciona a marca da polenta e do espumante usados nos pratos. Também abusa de
termos que poderiam ser facilmente escritos de maneira mais simples. Uma
salada é descrita como “bouquet de folhas”. A rúcula que acompanha um prato
aparece no cardápio como “julienne de rúcula” e faz menção ao modo como o
vegetal é cortado. O resultado de tanto rebuscamento linguístico aparece na
conta. O preço mínimo que se paga numa refeição no Kaá é R$ 125. No site do
D.O.M., um dos restaurantes mais caros e reconhecidos do mundo, há um mapa para
o cliente localizar a origem dos ingredientes usados pelo chef Alex Atala. Uma refeição
no D.O.M. não sai por menos de R$ 175 por pessoa.
Depois de conhecer a pesquisa de Jurafsky, não lerei cardápios da mesma
maneira. Não pretendo abandonar minha intuição nem a opinião do garçom. Mas
pensarei duas vezes quando ele me indicar comida “fresca” ou “deliciosa”.
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