Inicialmente nesta postagem iria colocar a Receita
do Título - Manjar de Coco da Bisa - mas ao deparar com o nome resolvi pesquisar
a origem do nome Manjar.
Como a história é longa e a receita é curta resolvi
dividir em duas partes.
1ª Parte - História da Receita
2ª Parte - A receita da minha Vó (Bisa do meu filho),
casa na qual estou morando
História do manjar
Em meados do século XVI, uma princesa portuguesa, d.
Maria, levou de Lisboa a Nápoles a seguinte receita de manjar branco:
“Tomareis o peito de uma galinha preta e pô-lo-eis a
cozer sem sal, senão na água, e há-de ser não muito cozida, para que se possam
tirar as fêveras inteiras. (...) E para este peito é mister um arretel de arroz
(...) e uma camada de leite deitada no tacho, e sete onças de açúcar. E
tomareis a galinha e darlhe-eis três machucadas num gral, e deitá-la-eis a
farinha de arroz e (...) o sal com que se tempere, muito bem mexido. Então,
pô-lo-eis no fogo e (...) a tempo batereis. Quando estiver cozido,
deitar-lhe-eis o açúcar e, se não for muito doce, poder-lhe-eis lançar mais; e,
como for cozido, tirai o tacho fora e enchei as escudelas e deitai-lhe açúcar
pisado por cima”.
D. Maria |
A receita faz parte dos quatro cadernos manuscritos
que ela levou consigo por ocasião de seu casamento com Alexandre de Farnésio,
terceiro duque de Parma, Piacenza e Guastella.
A história do manjar branco é excepcional para
entendermos as mudanças na cozinha ocidental. Ainda que esse seja um doce de
que nem todos gostam, sua presença nas mesas portuguesas e brasileiras é uma
tradição. De uma receita praticamente medieval, como a da princesa portuguesa,
o manjar branco se transformou lentamente no doce de coco com calda de ameixa
dos dias de hoje.
Em 1680, a receita de d. Maria já havia se
transformado. Além de peito de galinha, levava açúcar, leite e água de flor – o
sal já havia sido suprimido. Em 1780 o manjar branco foi descrito por um
cozinheiro francês que trabalhava na corte de Lisboa como manjar “à
portuguesa”. Levava ainda peito de galinha, farinha de arroz, açúcar em “pó” e
leite. A receita atravessou o Atlântico e apareceu no primeiro livro de cozinha
publicado no Brasil, O cozinheiro imperial, de 1841. Dessa forma, a sobremesa
associa-se à história de Portugal e do Brasil e reflete tempos, sabores e
saberes culinários de diferentes períodos.
Em seu livro Açúcar, Gilberto Freyre fala muito
sobre a influência africana na cozinha brasileira, e o manjar branco é um dos
melhores exemplos dessa influência. Ao longo do século XIX, ele perdeu o peito
de galinha, mas ganhou o leite de coco. Não perdeu a cor, mas ganhou inimigos
ferrenhos que o comparam com o pudim de leite. Pobre comparação, o manjar
branco continua gostoso como sempre, com sua majestade imperial e histórica.
Fonte das imagens e texto:
- http://viadeiportoghesi.blogspot.com.br/2008/07/d-maria-de-portugal-duquesa-de-parma.html
- http://www.matriz-portuguesa.pt/EXPO2015_INFANTA.php
- http://brito-semedo.blogs.sapo.cv/413208.html
Olá,
ResponderExcluirobrigado pela aula de história. Gosto muito de culinária, mas tenho grande apreço pela história da gastronomia.
Odiombar
Eu que agradeço seu comentário. Em muitas receitas do Blog aparecem histórias dos pratos e curiosidades
Excluir