quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Manjar de Coco - A origem da receita - 1ª Parte


Inicialmente nesta postagem iria colocar a Receita do Título - Manjar de Coco da Bisa - mas ao deparar com o nome resolvi pesquisar a origem do nome Manjar. 

Como a história é longa e a receita é curta resolvi dividir em duas partes.
1ª Parte - História da Receita
2ª Parte - A receita da minha Vó (Bisa do meu filho), casa na qual estou morando

História do manjar
Em meados do século XVI, uma princesa portuguesa, d. Maria, levou de Lisboa a Nápoles a seguinte receita de manjar branco:

“Tomareis o peito de uma galinha preta e pô-lo-eis a cozer sem sal, senão na água, e há-de ser não muito cozida, para que se possam tirar as fêveras inteiras. (...) E para este peito é mister um arretel de arroz (...) e uma camada de leite deitada no tacho, e sete onças de açúcar. E tomareis a galinha e darlhe-eis três machucadas num gral, e deitá-la-eis a farinha de arroz e (...) o sal com que se tempere, muito bem mexido. Então, pô-lo-eis no fogo e (...) a tempo batereis. Quando estiver cozido, deitar-lhe-eis o açúcar e, se não for muito doce, poder-lhe-eis lançar mais; e, como for cozido, tirai o tacho fora e enchei as escudelas e deitai-lhe açúcar pisado por cima”.
D. Maria
A receita faz parte dos quatro cadernos manuscritos que ela levou consigo por ocasião de seu casamento com Alexandre de Farnésio, terceiro duque de Parma, Piacenza e Guastella.

A história do manjar branco é excepcional para entendermos as mudanças na cozinha ocidental. Ainda que esse seja um doce de que nem todos gostam, sua presença nas mesas portuguesas e brasileiras é uma tradição. De uma receita praticamente medieval, como a da princesa portuguesa, o manjar branco se transformou lentamente no doce de coco com calda de ameixa dos dias de hoje.

Em 1680, a receita de d. Maria já havia se transformado. Além de peito de galinha, levava açúcar, leite e água de flor – o sal já havia sido suprimido. Em 1780 o manjar branco foi descrito por um cozinheiro francês que trabalhava na corte de Lisboa como manjar “à portuguesa”. Levava ainda peito de galinha, farinha de arroz, açúcar em “pó” e leite. A receita atravessou o Atlântico e apareceu no primeiro livro de cozinha publicado no Brasil, O cozinheiro imperial, de 1841. Dessa forma, a sobremesa associa-se à história de Portugal e do Brasil e reflete tempos, sabores e saberes culinários de diferentes períodos.


Em seu livro Açúcar, Gilberto Freyre fala muito sobre a influência africana na cozinha brasileira, e o manjar branco é um dos melhores exemplos dessa influência. Ao longo do século XIX, ele perdeu o peito de galinha, mas ganhou o leite de coco. Não perdeu a cor, mas ganhou inimigos ferrenhos que o comparam com o pudim de leite. Pobre comparação, o manjar branco continua gostoso como sempre, com sua majestade imperial e histórica.
Fonte das imagens e texto:
http://viadeiportoghesi.blogspot.com.br/2008/07/d-maria-de-portugal-duquesa-de-parma.html
http://www.matriz-portuguesa.pt/EXPO2015_INFANTA.php
http://brito-semedo.blogs.sapo.cv/413208.html


2 comentários:

  1. Olá,
    obrigado pela aula de história. Gosto muito de culinária, mas tenho grande apreço pela história da gastronomia.
    Odiombar

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu que agradeço seu comentário. Em muitas receitas do Blog aparecem histórias dos pratos e curiosidades

      Excluir